sábado, março 03, 2018

Enoturismo em Portugal: o contributo do Vinho do Porto

   Quando falamos em recursos turísticos que distinguem Portugal de outros destinos, os principais elementos para o qual o nosso pensamento reverte é para o clima, as paisagens, as praias, a história, a tradição. Porém, Portugal têm muito mais para oferecer. Há muitos outros recursos turísticos que contribuem para que Portugal seja hoje um dos destinos mais procurados e recomendados, como é o caso do vinho. O vinho e o turismo estão ligados há muito tempo, mas apenas recentemente têm ganho reconhecimento pela indústria turística. Para o turismo, o vinho é um grande fator de estímulo, dado que os vinhos portugueses são cada vez mais apreciados em todo o mundo.
   A atividade turística onde está inserida a cultura do Vinho designa-se de Enoturismo, esta é a atividade que alia todos os aspetos inerentes à cultura do vinho com o turismo, promovendo o conhecimento das etapas do processo produtivo do vinho, dos seus aromas e sabores. É uma forma de construir relações com os clientes, que podem experimentar e conhecer os produtos em sua essência, e convida ainda a vivenciar a cultura e a tradição local de forma a contextualizar a importância histórica desta atividade agrícola na região. No fundo, o Enoturismo compreende “visitas a vinhas, adegas, festivais vitivinícolas e eventos do vinho e da uva nos quais se prova o vinho e/ou se experienciam os atributos de uma região vitivinícola”.
   Em Portugal, dada a sua geografia e clima, o Enoturismo é uma atividade em ascensão, sendo as regiões do Douro e Alentejo grandes polos de atração desta atividade. Dado este fator, as apostas do turismo têm sido cada vez maiores, para além de que se acredita que esta é uma atividade que pode dar um contributo muito importante para trazer valor às regiões e mais emprego e, também, para valorizar o produto mais importante destas regiões, que é o vinho.
    Segundo dados de um estudo elaborado para a Associação das Rotas do Vinho de Portugal, as unidades de Enoturismo receberam 2,2 milhões de visitantes em 2016, um número que representa cerca de 10% do total de turistas registrados no ano passado em Portugal. Além de ser uma atividade em ascensão, têm ganho grande notoriedade e reconhecimento internacional, como se pode comprovar com a atribuição dos prémios que têm auferido: em 2017, A "Great Wine Capitals" elegeu o novo Centro de Visitas da Quinta do Bomfim, da família Symington, como o vencedor Global na categoria de Serviços de Enoturismo na edição dos prémios Best of Wine Tourism; em 2018, o Centro de Interpretação e Promoção do Vinho Verde (CIPVV), em Ponte de Lima, venceu a categoria “Arte e Cultura” do prestigiado concurso Best Of Wine Tourism Awards, que premeia a excelência e as melhores práticas de Enoturismo.
   O Douro é a mais antiga Demarcação Vinícola do mundo. Fortemente montanhosa, a região encontra-se protegida da influência atlântica pela Serra do Marão. O clima é habitualmente seco, com invernos frios e verões muito quentes, dando caraterísticas únicas a estes solos que são benéficas para a longevidade das vinhas e permitem mostos mais concentrados de açúcar e cor. É no Douro que nasce o Vinho do Porto, principal embaixador dos vinhos Portugueses. Mas este não é o único atrativo, uma vez que nos últimos anos os vinhos de mesa do Douro têm vindo igualmente a ganhar uma grande expressão a nível internacional. O Vinho do Porto, mais do que um vinho natural e fortificado, é um símbolo de uma região e um grande atrativo turístico, que sempre teve e continua a ter apreciadores por todo o mundo que querem conhecer mais sobre ele. Para isso, deslocam-se às caves em Vila Nova de Gaia para saberem um pouco mais e conseguirem perceber bem tudo o que envolve este produto. É quase implícito afirmar que um turista, quando vem a Portugal e ao Porto, não deixa de fazer uma visita a uma ou a várias caves de Vinho do Porto.
   As caves são quase todas já centenárias, e no que diz respeito ao seu funcionamento, todas elas são muito parecidas, dado que seguem um programa de visita idêntico, sendo que é frequente, para além da visita guiada às adegas onde são amadurecidos os vinhos em pipas de diversos tamanhos, a existência de provas de vinhos. Nesta cidade, existe também o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, onde se pode encontrar, para além de uma loja com vinhos desta região, livros sobre estes vinhos e a região vinhateira.
   Em conclusão, na minha opinião, o sucesso e crescimento do Enoturismo em Portugal é notório, porém, há aspetos que podem ser sempre melhorados no que diz respeito às condições das visitas às caves e às quintas, e, principalmente, no que diz respeito à promoção da oferta, onde é fundamental apostar no reforço da informação turística sobre a oferta do Enoturismo e fomentar a ação promocional. Tal como foi referido pela diretora da AEPVS, Isabel Marrana, ainda não temos o que cidades como Bordéus têm, que é a capacidade de envolver o turista desde que aterra.

Maria Madalena Vieira Morais

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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